mais as novelas mexicanas". No detalhe, seu crachá do SBT
Na madrugada de domingo para segunda passada, Iris Abravanel levou uma bronca do marido, Silvio Santos. O empresário e apresentador não pegava no sono, pois a mulher estava trabalhando na cama, com o computador ligado. "Sempre que tenho meus surtos criativos, o Silvio reclama: ‘Por que você ainda está acordada? Apaga a luz e vem dormir’.", conta Iris. Nos últimos meses, essas noites insones viraram rotina. A razão é que Iris, de 59 anos, anda se aventurando numa seara inédita: a profissão de noveleira. A senhora Silvio Santos é a autora do próximo folhetim do SBT. Com estréia prevista para o fim de junho, Revelação é uma aposta para reverter a crise de ibope que levou a emissora do marido a perder a vice-liderança de audiência no país para a Record. É, ainda, a primeira novela do SBT com texto nacional em nove anos, já que Silvio acaba de encerrar a parceria que o obrigava a só produzir os melodramas mexicanos da rede Televisa. "O público não agüentava mais as novelas mexicanas", diz Iris. Evangélica, ela decidiu então que era a hora de sair a campo "com fé" para salvar a pátria. "Quando vi a dificuldade de achar bons autores, perguntei a meu marido se eu mesma não podia resolver o problema", diz. Diante da resposta positiva, Iris lhe fez uma indagação prática: "Por onde começo?".
Com custo de US$ 70 mil por capítulo, Revelação é uma novela ambiciosa para os padrões do SBT. Para gravá-la, a emissora reformou a cidade cenográfica de sua sede, em São Paulo. As locações incluem também uma fazenda e uma segunda cidade cenográfica no interior paulista. Além disso, seqüências com o par romântico interpretado pelos atores Sérgio Abreu e Tainá Müller foram gravadas em Portugal e na Espanha. Silvio, no entanto, demorou a se convencer de que a empreitada vingaria. A princípio, Iris teve de se virar sem um centavo dele. Seu primeiro passo foi buscar dicas com Therezinha di Giácomo, consultora veterana de teledramaturgia do SBT. Em seguida, pediu ajuda a uma amiga, a proctologista Hellyangela Águida, que lidava com o grupo de teatro juvenil de uma instituição de ensino cristão da qual Iris também era voluntária, na organização de festas e bazares beneficentes (sua última ocupação antes de se tornar noveleira). A médica ajudou Iris a formar a equipe de sete colaboradores – composta, em sua maioria, de jovens egressos das montagens musicais da escola (onde também estudam os filhos de artistas do SBT como Gugu Liberato e Celso Portiolli).
Na semana passada, VEJA teve acesso a essa "oficina de roteiristas", na definição de Iris. Para facilitar seu trabalho, ela montou o QG em sua casa – mais precisamente, no quarto de Renata, de 23 anos, caçula das quatro filhas dela e de Silvio. "A Re ficou tiririca da vida quando a despejamos", diz. No começo, dava ajuda de custo do próprio bolso a esse pessoal – e, para gastar menos, os convidava para almoçar ali mesmo. Só em agosto passado, três meses depois de iniciada a aventura, é que todos – inclusive Iris – foram contratados pelo SBT. "Como eu nunca aparecia na emissora, me barraram na portaria ao chegar a uma reunião. Agora, é só mostrar o crachá", diz.
Fotos João Santos e Gilvan Guimarães/SBT
Iris com Silvio (à esq.) e os protagonistas da
novela na Europa: "Não é um fofinho?"
Iris recorreu a soluções caseiras para superar a falta de conhecimento em escrever novelas (e também em vê-las: em razão da "falta de tempo" e de suas viagens com Silvio, ela se confessa por fora das produções das concorrentes Globo e Record). As filhas Daniela e Rebeca (que estudaram comunicação e cinema, respectivamente) lhe emprestaram livros teóricos sobre roteiro. Iris buscou ainda uma fonte religiosa para aprender como se faz uma escaleta – jargão para uma espécie de organograma que resume a trama. É uma gravura que mostra a história da humanidade segundo a Bíblia, pendurada na parede de seu escritório. "É o escaletão das Escrituras", diz. Logo se estabeleceu uma divisão de trabalho. A redação das cenas de vilania fica a cargo do sobrinho Raphael Baumgardt ("ele adora tudo o que é do mal"). Já o romance central é com a amiga Rita Valente, professora de matemática que foi convocada para dar uma ajuda com os computadores e acabou virando redatora. "E olha que a Rita nem precisa trabalhar. Ela tem dinheiro, é casada com dono de cartório", observa Iris. A noveleira coordena a patota e faz as cenas cômicas. "Tudo o que eu tento escrever a sério sai engraçado", explica.
2 comentários. Só estou esperando o seu...:
essa novela vai dar o quefalar...pode ser um sucesso como pode ser um fiasco, é uma incógnita!
Falou tudo, Edu!
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