ESPECIAL TV CRUJ: Apresentação

No início de 1997, chamadas estranhas invadiram o sinal do SBT. Dois garotos, um de máscara preta cobrindo os olhos, o outro de máscara de macaco, anunciavam a estreia de uma TV pirata, que viria para reinvindicar os direitos dos ultra-jovens e exibir desenhos inéditos da Disney. A notícia ganhou destaque nos jornais, e em abril daquele ano o público finalmente ficou sabendo do que se tratava: a emissora de Silvio Santos realizara uma parceria inédita com a Walt Disney Company, que decidiu trazer para o Brasil um de seus programas de maior sucesso ao redor do mundo: Disney Club.

O programa surgiu no início dos anos 1990 na Europa, e os primeiros países a criarem suas próprias versões foram Inglaterra, Itália, França e Alemanha. Quando chegou ao Brasil, já havia sido exibido em mais de 30 países, incluindo Portugal, Austrália, China e Índia.

Logotipo internacional do "Disney Club"

"Nas produções de cada país em que é exibido é utilizado o talento e criatividade local, supervisionados pela Walt Disney Company", disse na época Jeffrey Walley, então vice-presidente de marketing da Walt Disney Television para a América Latina, ao jornal Folha de S. Paulo. "O formato do programa começou muito rígido e com o tempo foi ficando mais local. Os traços em comum entre o 'Disney Club' dos vários países são as logomarcas e as reportagens com novidades sobre o mundo Disney", revelou Mauricio Tavares, produtor executivo da Buena Vista Productions Latin America.

ABERTURA E FRAGMENTOS DO "DISNEY CLUB" CHILENO

Segundo Jeffrey Walley, outra semelhança entre as versões internacionais era a postura dos apresentadores, que não podiam falar palavrão, se despir ou apresentar vícios. "Eles têm de ter um comportamento que corresponda ao público da Disney", explicou. "A ideia não é fazer um programa educativo, mas com conteúdo e preocupado em divertir", completou Tavares.

Quando fechou acordo com o SBT, a Disney tinha a intenção de co-produzir novos programas para o público brasileiro, e futuramente trazer o Disney Channel para o país. O responsável pela adaptação do formato ao contexto nacional foi o renomado diretor Cao Hamburger, que já havia alcançado o êxito em produções como "Castelo Rá-Tim-Bum", da TV Cultura. A essa altura, o diretor já acumulava mais de 20 prêmios em vários países por seus trabalhos em cinema e televisão. Foi lado de Anna Muylaert, com quem trabalhou em "Castelo Rá-Tim-Bum", que Hamburger fez toda a criação do "Disney Club" brasileiro. Muylaert também já tinha experiência com o público infantil, graças ao seu trabalho na série "Mundo da Lua", outra excelente produção da TV Cultura.

Logotipo da primeira versão nacional

A dupla levou uma equipe de profissionais da antiga emissora para o desenvolvimento do programa. "Foi tudo muito rápido", contou Cao Hamburger à Folha. "Em um mês e meio criamos tudo e começamos a gravar. Por ser um programa que não tem um número fechado de episódios, ele vai se acertando com o tempo, vai mudando, crescendo", explicou. "A coisa está saindo do jeito que a gente queria", disse Anna. "O fato de poder levar uma equipe completa é uma grande sorte, porque a afinação é muito importante", concluiu.

Depois de terem feito todo o encaminhamento do programa, a dupla de diretores deixou a produção do "Disney Club" em julho de 1997. O diretor Renato Fernandes, que deixou o "X-Tudo", também da Cultura, continuou no comando da atração, junto com a equipe formada por Cao e Anna, mas sempre sob a supervisão da Disney.

Uma das novidades da versão brasileira do "Disney Club" foi a criação de um universo fictício, onde o cotidiano dos apresentadores era mostrado entre os "intervalos". Para isso foram criados os personagens Juca (Diego Ramiro), Macarrão (Caíque Benigno) e Guelé (Leonardo Monteiro), que usavam os codinomes Caju, Macaco e Chiclé, respectivamente.

Diego Ramiro (Caju), Caique Benigno (Macaco) e Leonardo Monteiro (Chiclé).

A história da TV CRUJ (Comitê Revolucionário Ultra-Jovem) começa quando o inteligente Juca decide criar uma TV pirata no sótão abandonado da casa vizinha, e chama o amigo Macarrão para apresentar desenhos e reinvindicações contra os adultos e as injustiças sofridas pelos ultra-jovens. Quando seu irmão mais novo descobre o que a dupla está tramando, resolve fazer parte do programa, que defende o lema "nós somos ultra-jovens, e merecemos respeito!" O termo "ultra-jovem", pra quem não sabe, vem do conto de Carlos Drummond de Andrade, "O Poder Ultra-Jovem".

ABERTURA E TRECHO DO PRIMEIRO EPISÓDIO

Com receio de serem descobertos pelos "agentes da TV", que poderiam cortar o sinal do CRUJ e entregar os garotos para os seus pais, eles são obrigados a apresentar o programa mascarados, usando os codinomes já citados. Pouco tempo depois da estreia do programa, cai de pára-quedas no comitê a primeira integrante do sexo feminino, Malu (Jussara Marques), que adota o codinome Maluca. Com acessórios coloridos e um jeito irreverente, a menina vai conquistando seu espaço no programa, que mais tarde recebe novos membros. Frederico (Murilo Troccoli) e Ana Paula (Danielle Lima), mais conhecidos como Rico e Pipoca, vêm adicionar jovialidade ao programa, que nesta ocasião já tinha perdido um dos integrantes, Macaco, devido à idade.

Nesta segunda, você não pode perder a segunda parte do Especial TV CRUJ. Durante toda a semana você relembrará os desenhos que animaram o programa. As postagens serão diárias, sempre no horário em que a TV CRUJ era exibida originalmente, às 17h55. Depois dos desenhos, será a vez de falar dos atores/apresentadores, e você saberá mais detalhes sobre sua carreira e o trabalho no melhor programa infanto-juvenil da TV brasileira. O O&O teve acesso a alguns deles, que concordaram em conceder uma entrevista para o maior especial já realizado sobre o programa que marcou a nossa infância. Imperdível!